A QUESTÃO DO CASO ZÉ DIRCEU: LUZES E SOMBRAS
Um desafio para a Democracia.
Paulo Cesar de Lara
Mestre em Direito
Constitucional (UFMG)
Especialista em
Políticas Públicas (UEPG)
Professor Universitário (UEPG e CESCAGE) e Pesquisador
do CNPQ
Professor de Direito
Internacional Público e Direitos Humanos.
Advogado que atuou na
Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos
Advogado atuante em
Advocacia Internacional
Resumo: Muito se pode dizer sobre o caso “ZÉ DIRCEU”. Nossa tese é que os avanços sociais, a inclusão
democrática da população carente, a eliminação da miséria absoluta segundo as
metas da Organização das Nações Unidas, a implantação de políticas afirmativas
e dentre estas a criação de cotas nas Universidades para estudantes da Escola
Pública, índios e negros, a elevação do salário mínio para quase o quádruplo do
que se tinha a 20 (vinte) anos atrás, a ampliação da malha de seguridade
social, a política habitacional inclusiva das populações de baixa renda, os programas
de micro crédito, são questões que interferiram no status quo das classes média e alta no Brasil. À frente de todas estas
questões e com o papel de articulista na seara política e nos bastidores do
poder estava o Político e Advogado José
Dirceu de Oliveira e Silva, conhecido como “ZÉ DIRCEU”. O problema é
que o “ZÉ NINGUÉM” passou a ter tantos
direitos em tão curto espaço de tempo e esta exterioridade afetou o corpo
social sistêmicamente o que exigiu uma reação defensiva contra o “intruso”. Assim sendo, esperava-se um momento de
fragilidade para se tentar desmantelar o processo social em curso no Brasil e
quem o promovera e isso se deu com o famoso caso do “Mensalão”. Na seqüencia o
sistema legal passou a agir em toda a sua plenitude de poder institucional para
puir o que nunca fora punido antes, não sem tudo haver incidido em algumas contradições,
objeto deste estudo.
Palavras chave: Democracia. Tribunais.
Elites. Direitos.
Abstract:
Muit
o se pode dizer sobre o
caso “ZÉ DIRCEU”. Nossa tese é que os
avanços sociais, a inclusão democrática da população carente, a eliminação da
miséria absoluta segundo as metas da Organização das Nações Unidas, a
implantação de políticas afirmativas e dentre estas a criação de cotas nas
Universidades para estudantes da Escola Pública, índios e negros, a elevação do
salário mínio para quase o quádruplo do que se tinha a 20 (vinte) anos atrás, a
ampliação da malha de seguridade social, a política habitacional inclusiva das
populações de baixa renda, os programas de micro crédito, são questões que
interferiram no status quo das
classes média e alta no Brasil. À frente de todas estas questões e com o papel
de articulista na seara política e nos bastidores do poder estava o Político e
Advogado José Dirceu de Oliveira e Silva,
conhecido como “ZÉ DIRCEU”. O problema é que o “ZÉ NINGUÉM” passou a ter tantos direitos em tão curto espaço de
tempo e esta exterioridade afetou o corpo social sistêmicamente o que exigiu
uma reação defensiva contra o “intruso”. Assim sendo, esperava-se um momento de
fragilidade para se tentar desmantelar o processo social em curso no Brasil e
quem o promovera e isso se deu com o famoso caso do “Mensalão”. Na seqüencia o
sistema legal passou a agir em toda a sua plenitude de poder institucional para
puir o que nunca fora punido antes, não sem tudo haver incidido em algumas contradições,
objeto deste estudo.
Keywords: Democracia. Tribunais.
Elites. Direitos.
Sumário: 1. Introdução – 2.
Instituições em busca de identidade. O problema da autoafirmação do Supremo
Tribunal Federal – 3. Os problemas de uma democracia que se pretende
republicana, mas que ainda se baseia nos princípio dos dois pesos e das duas
medidas - 4. Uma visão psicanalítica sobre o caso: O animal do sacrifício - 5. Avanços sociais e inclusão: O pesado preço a
ser pago – 6. Na arena política:
Sem perdão e sem piedade - 7. A única resposta a ser dada para a nação
brasileira e para a história – 8. Conclusão –
9.Bibliografia.
1. INTRODUÇÃO.
É triste, antipático e talvez revoltante até, mas, nas Democracias,
às vezes se faz necessário ir “contra” algumas opiniões, havidas por unânimes
para se manter a sanidade do sistema e para que este não se degenere em Demagogia.
Isso é ARISTÓTELES
(384 a.c a 322 d.C) quem ensina em sua obra A
POLÍTICA (Πολιτικά) com todas as letras (só que em grego,
né?) que a Democracia não é o melhor regime político, mas de certa forma o
menos problemático, considerando as complexidades e dificuldades implementar e
manter os outros regimes políticos.
A respeito da temática de regimes políticos há autores que
cometem certos equívocos em sua nomenclatura. No Brasil a melhor obra sobre o
tema é do catedrático da Universidade Federal de Minas Gerais, o Professor JOSÉ ALFREDO DE OLIVEIRA BARACHO de
saudosa memória, intitulada REGIMES
POLÍTICOS.
O opúsculo parte dos ensinamentos de MAURICE DUVERGER em sua obra OS
REGIMES POLÍTICOS, um estudo clássico do Direito Político e avança em
profundidade exaurindo o tema compilando o pensamento dos autores mais
expressivos e assinalando o termino da obra com suas notas pessoais.
Enfim, para ARISTÓTELES,
seria preferível o governo dos Reis Filósofos, dos governantes sábios, mas como
isso não é fácil nas Monarquias ante a dificuldade de se encontrar monarcas com
tantos atributos, se optou pela Aristocracia, o governo dos melhores, e em
último caso a opção pela Democracia, o governo dos “pobres” governando para os
pobres.
Acabou que da mescla entre o regime monárquico,
aristocrático e democrático surgiu como que um meio termo, este sim com a conotação
de governo do “povo”. Também o jurista e Professor austríaco HANS KELSEN (1881 a 1973) nascido em
meados do século XX, em suas obras traduzidas pra o português sob o título de JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL e A DEMOCRACIA, afirma a necessidade da Justiça
ser uma força contra a opinião pública, uma pedra no sapado nos ecos do clamor
popular.
A este fenômeno dá-se o nome de Poder contramajoritária
exercido pelos Tribunais, para evitar abusos oriundos da manipulação da opinião
pública o que não é raro de acontecer, dada a relativa facilidade com que se
opera segundo os cânones da “moral de rebanho”, no dizer de NIETZSCHE, uma massa conduzida e
corrompida pelos diversos meios nos mais diversos escalões e sob os mais
variados argumentos.
Podem ser citados dois exemplos bastante expressivos que
retratam o fenômeno da manipulação das massas, e da mais arrematada das injustiças
praticadas em nome da “Democracia” e do “bem do povo”, o primeiro caso o
julgamento de SÓCRATES como contado
por PLATÃO, condenado à morte por
envenenamento sob a acusação de haver “corrompido” a juventude.
O segundo caso foi o julgamento do homem JESUS, onde o “povo” clamava pela
condenação e morte na cruz de um inocente no mais dramático episódio que teve
como palco a justiça humana. Não se pode esquecer o relato de alguns
evangelistas de que a multidão fora insuflada pelos inimigos declarados de
Jesus.
Este assunto é muito bem analisado, pelo ex-Juiz da Corte Constitucional Italiana, GUSTAVO ZAGREBELSKY, na obra A
CRUCIFICAXÃO E A DEMOCRACIA. Portanto, uma obra escrita segundo a longa
experiência de vida de alguém já calejado na observação da interação entre os
Tribunais e a Política, afinal, foi num Tribunal romano que Cristo foi
condenado à morte injusta e desapiedada aquele que é o espelho da justiça e da
piedade.
Quanto ao pensamento de KELSEN,
é pena que quase a totalidade dos versados em leis, ignora as mais de 620 obras
entre traduções e reedições do referido autor, e conheça apenas as traduções da
obra de KELSEN intitulada a TEORIA PURA DO DIREITO (Reine Rechtslehre).
Em verdade melhor fora que nada conhecessem. O problema é
que os estudiosos conhecem o suficiente a obra do gênio austríaco para
entendê-la de forma lastimável, interpretá-la de maneira equivocada e
explicá-la aos estudantes tragicamente, em regra enfatizando de forma negativa,
senão absurdamente apaixonada, o chamado formalismo “positivista” de KELSEN.
E no que consistiria tal formalismo dito “positivista”?
Seria não muita coisa além de um formalismo legal que se prestaria a
injustiças, no entendimento destes “explicadores” se esquecendo, contudo de
mencionar o que havia no “mundo jurídico” antes da obra de KELSEN. E o que
havia? Não havia “mundo jurídico”.
Havia um amontoado indistinto de regras morais, religiosas,
sociais, e legais entrelaçadas de crendices e ignorâncias de toda ordem tamanho
e dimensão e para todos os gostos. Foi em face deste amontoado de “coisas”
desconexas, de crendices medievais, tratados teológicos amalgamados com
receitas de bruxaria salpicados por esoterismos de toda ordem que se constituía
a base onde edificada o direito irracional.
Apenas para
citar dois casos curiosos, o sistema legal medieval permitiu levar a julgamento
um “porco”, inclusive submetendo o pobre “projeto de presunto” a extensos
interrogatórios podendo até mesmo ser punido em caso de desacato ao Tribunal. E
mais, a menos de um século, em 1906, EDWARD PAYSON EVANS dá noticia sobre o caso do “cachorro de Délémont”, na Suíça, onde um cão foi réu
em processo criminal.
O resultado? Ainda não
terminamos de analisar os Autos. Mas uma questão processual poderia ser
suscitada aqui, a questão é saber quais testemunhas seriam mais fidedignas à
causa da justiça nestes casos, se os humanos ou os animais.
A perplexidade se deve ao
fato de que o depoimento de muitas das testemunhas humanas podem causar mais
estragos nas vidas dos litigantes do que o depoimento do mais irracional dos
animais, dado a certas singularidades humanas que se revelam em face de certa
exigência moral que é a de “dizer a verdade, somente a verdade e nada mais do
que a verdade”, algo simplesmente incompreensível para certos espíritos.
E
ainda se quer dizer que a fabulosa sistematização da justiça em moldes
científicos empreendida por KELSEN teria sido algo negativo? Basta ver
as obras históricas de Direito e um filme (Luz e Trevas) que se percebe esta
loucura que era o mundo pré-científico, juridicamente falando.
No Brasil é a Professora ELZA
MARIA MIRANDA AFONSO quem mais conhece de HANS KELSEN, estudou anos no Instituto HANS KELSEN em Viena, na Áustria. Interessante notar que o KELSEN estudado pela brilhante docente
não é e nem nunca foi o KELSEN que se diz estudar no Brasil. Curiosidades.
Pois bem, deste emaranhado de regras (como explicado por LHUMANN, MAURICIO FIORAVANTI E MENELICK DE
CARVALHO NETTO), emerge a original e brilhante obra do Professor KELSEN
sistematizando o Direito e dando racionalidade ao sistema, sistema este que
todos os dias sofre os atentados dos operadores do direito que muito trabalham com
afinco para que o Direito volte a ser irracional, sem previsibilidade, sem
explicação, misterioso e profundo, como um abismo e a isso chamam de “cultura
jurídica”.
Explicar, esclarecer para que? Afinal são as palavras
pomposas que constituem a boa fama do “jurista”, assim como a marca do
automóvel e da grife das roupas dos Advogados são o selo de sua “imensa
capacidade”, afinal, o que alguém com o sapato sem lustro pode ensinar sobre
justiça, moralidade e o sucesso?
2.
INSTITUIÇÕES
EM BUSCA DE IDENTIDADE. O PROBLEMA DA AUTOAFIRMAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Mas voltando à história do Processo, não do “porco”, nem do
“cachorro Réu da Suíça, mas de ZÉ DIRCEU, indaga-se, o ZÉ merece a forca?
Talvez, alguém possa afirmar, “com certeza” algum outro pode ser mais enfático,
mas certamente se somos realmente adeptos da verdade, o seu pescoço não poderá
ser o único a ser quebrado, se é que seria justo assim se pensar.
A opinião pública, salvo raríssimas e decantadas exceções, é
unânime em concluir que JOSÉ DIRCEU é bandido! Tanto o é que a Corte Suprema
determinou sua prisão. Além disso, no momento ZE DIRCEU personifica tudo de
ruim que existe na nação, corrupção, desmandos, desonestidade, desrespeito ao
direito, desprezo pelas leis, favorecimentos pessoais e uma auto-afirmação do
sistema de justiça, desde há muito desmoralizado sob o argumento de que somente
funciona para punir os fragilizados e nunca alcança os “grandes”!
Observe-se que é previsto a figura processual do
“impedimento” e da “suspeição” de testemunhas que tenham interesse direto no
resultado na demanda podendo ser contraditadas para que sequer possam
testemunhar e se o fizerem só o façam na condição descompromissada de mero
informante.
Tudo isso se dá porque a Lei presume que tais testemunhas
que são amigos ou inimigos, parentes ou outra condição de extremada dependência
ou interesse no objeto do Processo (artigo 414 do Código de Processo Civil) e a
sua isenção de ânimo seria uma “garantia” de justiça lídima, respeitável,
imparcial.
Contudo, nada diz a Lei quando é o próprio sistema de
justiça que se coloca em evidência, um sistema historicamente desgastado,
imageticamente desacreditado e não raras vezes pouco compreendido, que se vê
compelido pelo instinto de auto-sobrevivência a preservar a sua auto-imagem
ameaçada sob o crivo da opinião pública.
É aí que expressões como isenção, imparcialidade, decidir
tecnicamente, absolutamente nada significam e é nessa hora em que o Réu
torna-se o inimigo numero “1” da nação e a seu aniquilamento se transforma em
questão de vida ou morte.
Pois bem é exatamente isso que configura as chamadas “razões
de Estado” e que transformam o réu comum em alguém com os seus direitos
políticos violados, o que implica reconhecer, o que implica reconhecer ser a
porta aberta para se invocar a proteção internacional pela violação pelo Estado
aos Direitos Humanos previstos em diversos tratados internacionais e no próprio
texto constitucional (art. 5º, § 3º da Constituição Federal de 1988).
Observe que determina a Convenção Americana de Direitos
Humanos (1969) – Pacto de San José da Costa Rica: “Artigo 8º - Garantias judiciais- 1. Toda
pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de
seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza.”
3. OS PROBLEMAS DE
UMA DEMOCRACIA QUE SE PRETENDE REPUBLICANA, MAS QUE AINDA SE BASEIA NO
PRINCÍPIO DOS DOIS PESOS E DAS DUAS MEDIDAS.
Pois bem. Se imaginarmos que um Presidente da República
tivesse sido eleito para um mandato de 4 anos sem direito a reeleição e no
decorrer do seu mandato houvesse uma Emenda Constitucional e alterasse as
regras de tal forma que possibilitasse
mais 4 anos de mandato caso reeleito, naturalmente isso seria correto?
Formalmente sim.
Contudo, se os meios legislativos para a aprovação desta
Emenda passassem pelo caminho da corrupção, suborno, negociação eleitoral e até
mesmo a pura e simples “venda de votos” favoráveis á Emenda, poder-se-ia dizer
que a reeleição foi legítima?
A opinião pública responderia naturalmente que não, é
totalmente ilegítima porque fruto de fraude e de crime. Pois bem, essa é a
história da Reeleição no Governo FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO conforme consta dos anais da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal, dos Registros da Imprensa e nos procedimentos de apuração do
Congresso.
Isso não seria crime tanto quanto a acusação de uma
presunção de culpa de ZE DIRCEU pelo fato de ser o chefe do Governo de Lula? Se
o senso ético da opinião pública não reprovou a forma ilícita utilizada para
aprovar a Emenda ilegítima da Reeleição, por que não se verificou a mesma
conduta do caso DIRCEU?
Se poderia dizer que era conveniente para o Brasil a
reeleição porque a Economia ia bem, a estabilidade econômica e ninguém gostaria
de mexer em time que estava ganhando, pois bem. De igual forma, os avanços
sociais no Brasil foram imensos e inegáveis, inclusive tendo o Brasil seguido
as metas propostas pela ONU para que até 2014 a miséria fosse erradicada no
mundo.
Não fosse o escândalo do chamado “Mensalão” o fato de se ter
tirado mais de 30 milhões de brasileiros da linha da miséria seria de todo um
êxito não do Brasil, mas da comunidade internacional, pois, se alcançou uma
meta que se achava impossível. Observe-se que Em setembro de 2000, a
Assembléia do Milênio reafirmou na sede da ONU em Nova York (EUA) as metas de
qualidade de vida das Nações Unidas para o novo milênio.
Segundo informa a própria ONU (
http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-em-acao/a-onu-e-o-desenvolvimento/)
a meta nº 1
das Nações Unidas formada por
quase 200 Estados Nacionais é a erradicação da extrema pobreza e da fome. Para
isso estabeleceu-se a redução pela metade, entre 1990 e 2015, da proporção da população
com renda inferior a um dólar por dia e a proporção da população que sofre de
fome.
No início da década de 90 havia
uma grande perspectiva em torno do desafio de se elevar o salário mínimo no
Brasil para U$ 100 (dólares). Pois bem, um Partido incipiente assumiu o
compromisso de conseguir mais do que isso ao prometer aos brasileiros pobres
que estes teriam direito ao menos a 3 refeições por dia e isso num país onde em
muitos lugares ainda se comia calangos.
Deixando para trás 2 (duas)
décadas de intensos acontecimentos positivos e negativos, feitos heróicos e
acontecimentos amargos e decepcionantes da história política brasileira, o fato
é que o partido incipiente alcançou a Presidência da República sob as
orientações estratégicas e as batalhas políticas protagonizadas de uma forma
toda especial por ZÉ DIRCEU, o mesmo que agora é Réu condenado e prisioneiro.
Pois bem, foi no Governo do Réu ZE
DIRCEU que se alcançou no Brasil o marco histórico do salário mínimo
equivalente a U$ 343,59 (dólares), se atingiu as metas da ONU no combate à
fome, os pobres conseguiram moradia, trabalho, assistência social, uma incrível
ampliação do estudo universitário, política de cotas para estudantes pobres e
para os cidadãos negros, a garantia de um salário mínimo inimaginável além das
3 refeições diárias.
“Sociologias à parte”, isso é
absolutamente inaceitável por parte da sociedade brasileira que defende que se
coma bem, que se estude bem, que se tenha trabalho e casa e que nada mais
falte, mas para os “seus” filhos...
Também isso é imperdoável. Pior é
que alguns pensam assim e nem “elite” são, não sabem que são contra si mesmos,
não se reconhecem como povo a cujo conceito sociológico tem aversão, introjetam
um discurso e uma prática que não são seus, não se possuem ideologicamente e
nem aceitam seu lugar na história.
Assim, não se reconhecem nem
diferenciam dos interesses dos “Senhores”, não compreenderam as armadilhas da
liberdade de que falava HEGEL em sua “Dialética do Senhor e do Escravo” onde o
escravo é como que possuído pela forma de ver e sentir o mundo, a vida e a si
mesmo, mas apenas sob o ocular do Senhor, nunca dele, escravo, escravo,
dependente e alienado.
Se em nome da estabilidade política do Governo FHC optou-se
pelo pacto do silêncio porque seria mais conveniente à nação, no caso “ZÉ
DIRCEU”, de igual forma os fins não deveriam justificar os meios e se fazer uma
leitura politicamente positiva, eticamente aceitável e legalmente justificável
para fazer valer muito mais os avanços conseguidos do que os meios políticos
utilizados para se obter isso?
4.
UMA VISÃO PSICANALÍTICA
SOBRE O CASO: O ANIMAL DO SACRIFÍCIO.
ZÉ DIRCEU foi a
personificação mais forte da presença da oposição popular no Brasil e o grande
mentor de LUIZ INÁCIO. Se DIRCEU deveria ser condenado pelo
mensalão porque podia ou devia saber o que acontecia, pois seria o detentor do
“domínio do fato”, o sistema legal incluindo Ministério Público, Poder
Judiciário, opositores políticos não conseguem explicar porque que o próprio LULA não figurou como Réu e disso sequer
se cogitou?
Ou o sacrifício de DIRCEU
era condição necessária e suficiente para se ir ao fundo da ferida, mas não
tão fundo assim? Ou ambos são culpados ou ambos são inocentes e aqui não há
como explicar nem como entender, mas há como compreender. Mas não é o Direito
que explica e sim a psicanálise e as profundas raízes psíquicas da estrutura
humana. Fala-se aqui no ritual do sacrifício, alguém precisaria ser
sacrificado. Se este alguém fosse culpado melhor ainda.
Assim pensava o homem primitivo e assim continua a pensar na
região profunda e obscura da mente humana como explicado por JUNG na obra O HOMEM E SEUS SIMBOLOS, pois é mais fácil atingir somente o animal
sacrificial do que toda a manada, isso satisfaz aos deuses, aplaca a fúria do
povo e dá certa sensação de justiça e dever cumprido, todos festejam e revivem
o banquete pagão.
Mas se poderia dizer que os fins não justificam os meios.
Neste caso, em particular há quem pense que se possa nivelar o governo LULA e seu mentor político ZE DIRCEU com o Governo de ABRAHAM LINCOLN, o maior mito da
história política norte americana e que também se utilizou de “mensalão” para
aprovar a 13ª Emenda a Constituição Norte Americana com o fim de abolir o
odioso instituto da escravidão dos Estados Unidos que rasgou a nação em dois
pedaços numa guerra entre irmãos durante 5 longos e sangrentos anos.
E a Guerra civil veio
porque a Suprema Corte dos Estados Unidos falhou ao garantir a igualdade no
caso DRED SCOTT, (1857) num dos
episódios considerados a mais triste pagina escrita pela Suprema Corte dos E.U.A.
segundo afirma o Professor MICHEL
ROSENFELD em sua obra A IDENTIDADE
SUJEITO CONSTITUCIONAL.
A mesma justiça que se recusara a conceder a liberdade a um
negro teria de contemplar uma tragédia fratricida onde nem os juízes e nem os
Tribunais não teriam mais nada a fazer, senão lamentar os seus mortos.
Aqui cabe relembrar um antigo ditado que diz que sobre toda
pessoa há 3 coisas a dizer, o que os outros dizem que a pessoa é, o que ela
pensa que é e o que realmente ela é. No mundo social estas percepções
psicológicas, essenciais ao desenvolvimento sadio da personalidade, isso também
é verdadeiro, pois, há grande distância entre o que de fato é e o que apenas
aparenta ser.
Então como ficamos? Os fins justificam os meios?
No caso brasileiro só podemos concluir que depende. Depende
de quem serão os beneficiados, a classe média e as classes ricas, esperançosas
de estabilidade e prosperidade econômica ou se os favorecidos são 30 milhões de
miseráveis que sempre estiveram à margem dos direitos e regalias, do respeito e
da cidadania e que agora forçosamente ocupam espaços na sociedade que está
incomodando demais.
5. AVANÇOS SOCIAIS E INCLUSÃO: O PESADO PREÇO
A SER PAGO.
Vide o caso das políticas afirmativas, em especial a questão
das cotas para estudantes de Escolas Públicas e negros nas Universidades. A chamada Lei das Cotas (Lei nº 12.711, de 29 de agosto de
2012) regulamentada pelo Decreto
Presidencial nº 7.824/2012, obriga as Universidades, Institutos e
Centros Federais a reservarem para candidatos cotistas metade das vagas
oferecidas anualmente em seus processos seletivos.
Quanto as
Instituições Estaduais a questão fica em aberto sendo crescente a adesão a
política de cotas com raríssimas exceções de retrocesso e mais raras ainda as
exceções de Instituições que aboliram por completo as cotas para os negros. O
argumento mais comum de se ouvir é que nunca houve racismo no Brasil e é esta
questão das cotas que está criando o racismo.
O argumento é
esplêndido e o seria mais ainda se imaginarmos que nunca houve o problema
social no Brasil, as injustiças com os trabalhadores somente surgiram porque
eles insistiram em ter direitos, assim, nunca houve Ditadura Militar no Brasil
nem violações a direitos humanos, o problema é que havia gente que insistia em
não querer ser torturada, nem presa, nem violada em seus Direitos
Constitucionais, assim o culpado é a vítima, num processo de introjeção de
culpa, de tal forma que a vítima há de pedir perdão ao algoz por ser a causa de
sua desmoralização.
De fato os
negros não deveriam ter vantagens adicionais, afinal, o problema da escravidão
também nunca existiu, teria sido tão somente o fruto da rebeldia dos escravos
que se recusavam em serem animais de carga e certamente foi frei BARTOLOMEU DE LAS CASAS que criou o
problema do genocídio dos povos indígenas no século XVI por insistir no debate
com o jurista oficial da Corte Espanhola.
Talvez se possa dizer, que não havia problemas quanto a
escravidão dos índigos pelos espanhóis na América Colonial e que certamente o
responsável pela intriga entre os colonizadores e os pobres indígenas, teria
sido Frei BARTOLOMEU
DE LAS CASAS, que tanto falou sobre o assunto e tanto escreveu (ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A BREVÍSSIMA
RELAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DAS ÍNDIAS)
que acabou sendo designada um histórico debate na Universidade de Valladolid na Espanha.
O
debate foi realizado em duas sessões: a primeira em agosto de 1550 e a segunda
em maio de 1551 tendo sido presidido pelo dominicano Domingo de Soto e teve
como debatedores, JUAN GINÉS DE SEPÚLVEDA
e BARTOLOMEU DE LAS CASAS. LAS CASAS, um cristão convertido que antes o
comercia de compra e venda de índios, converteu-se ao cristianismo. Iniciou o
debate com uma longa leitura de sua
obra APOLOGIA, que durou 4 (quatro)
longos dias, na qual refutava os argumentos de Sepúlveda.
A edição
em Espanhol inclusive com a digitalização ladeada do texto original da obra de LAS CASAS foi publicada há pouco tempo
pela UNAM – Universidade Autônoma do México numa edição admirável em capa dura
e que o autor deste Artigo teve a satisfação de adquirir em II volumes quando
de suas andanças de estudos na cidade de Belo Horizonte, o que foi mais do que
uma grande sorte, foi algo providencial.
É que a
1ª edição para o português, segundo informa em estudo diligente,
JORGE
LUIZ GUTIÉRREZ (
http://mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/jorge.pdf)
Em 1944 foi
feita uma tradução da obra espanhola para o português a partir de uma edição
francesa num trabalho confuso tendo sido repetido novamente em 1984 não tendo
sido também uma tradução ideal posto que baseada na anterior traduzida do
francês.
Finalmente
em 2010, os Tratados de FREI BARTOLOMEU
DE LAS CASAS foram publicados pela Editora Paulus em tradução para o Português. Apesar de o título ter sido
diverso original (Liberdade e justiça para os povos da América, oito Tratados
impressos em Sevilha em 1552) , a edição da obra esteve sob os cuidados do Frei
CARLOS JOSAPHAT, um dos principais estudiosos no Brasil da obra e vida de Bartolomeu de Las Casas.
Finalmente
se fez justiça ao grande humanista, o fundador dos Direitos Humanos nas
Américas, pois, relacionou filosofia, teologia, retórica, direito, política,
economia, numa obra que expressa sem dúvida a grandiosidade do espírito humano
e quebra de vez com as Teorias descabidas de gerações ou dimensões de Direitos
humanos para a partir de uma concepção de unidade e centralidade construir uma
civilização mais justa e de fato humana.
Não deixa de ser objeto de
muitas reflexões que obra tão importante para a identidade latino-americana e
para toda a humanidade, tenha recebido a devida atenção no Brasil e traduzida
com grande fidedignidade somente em 2013. Enquanto isso, o que se lia no País?
Exercitava-se naturalmente a criatividade dos adolescentes com obras de
esoterismo barato e de auto-ajuda, que nada acrescentam para a formação
humanística.
Enfim, retomando o tema central, os argumentos para combater
as políticas afirmativas, são carentes da devida fundamentação, sob os mais
variados pontos de vista, em outra oportunidade e em estudo específico esta
tese será discutida. Mas, afinal o que todas estas questões têm a ver com o
caso ZÉ DIRCEU?
Ocorre que se arrisca afirmar que estas questões sociais e
políticas, não tem nada a ver com o caso ZE DIRCEU, porque simplesmente elas
“são o caso ZE DIRCEU”, pois o PT fez o que até então todos os demais partidos
e forças políticas sempre fizeram, a negociata aqui e no mundo afora, já foi
citado o caso LINCOLN.
Só que tudo isso não ficou bem para os que se diziam os
paladinos da ética, da moralidade e da honestidade pessoal e institucional, a
corrupção e os rumores de corrupção se espalharam, desmoralizaram os governos,
os partido e a militância. Não se esqueça que o PT não é somente os dirigentes
e a cúpula enriquecida, e o PT-militância, como fica?
Como ficam todos aqueles que sacrificaram realmente parte de
suas vidas por acreditar neste projeto de redenção para a nação? Tudo isso
deveria ficar na conta daquele que recebeu todas as vantagens, todas as honras
e todos os aplausos e que agora sai de cena e na parte para a defesa de quem o
defendeu a vida toda, o próprio Presidente LULA.
Ocorre que o alter ego de LULA era ZÉ DIRCEU, quem
igualmente se dizia o paladino da ética era o homem da linha da frente,
provável candidato à sucessão política de LULA, (futuro e agora futuro ex-
candidato ou ex-futuro candidato?) até então com chances reais de chegar à
Presidência da República, mas, estaria arruinado politicamente como COLLOR DE
MELLO, que apesar de ter sido condenado politicamente no Processo de
impedimento foi absolvido nas quase 30 ações criminais junto ao STF? Porque
afinal COLLOR retornou ao cenário político.
Mas alguém de plena e inquestionável autoridade moral
poderia sentenciar que todos têm o direito à verdade. De fato é verdade esta
verdade! Mas não se pode esquecer que KANT
dizia da importância essencial da verdade e de seus “imperativos categórico”,
mas que também dizia sobre o “suposto” direito de mentir, que a verdade somente
deve ser dita de forma moralmente obrigatória para quem merece ouvir a verdade.
E esse é o nosso problema aqui, pois quando se está na arena
política, quantos há que de fato merecem a verdade? Com facilidade o Congresso
esvazia a sustentação política de um Presidente num regime como o brasileiro,
inviabilizando-o e levando a nação á mais arriscadas das crises institucionais.
6. NA ARENA POLÍTICA: SEM PERDÃO E SEM
PIEDADE.
ALEXIS DE TOCQUEVILE
em sua obra A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
que o que é virtude em um intelectual é defeito em um homem de Estado, o que
foi “aportuguesado” por pelo então Presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ao dizer que se deveria “rasgar tudo o
que ele escreveu” enquanto pensador, e ZAGREBELSKY na obra já referenciada
sobre a DEMOCRACIA afirma que “na política, a mansidão, para não parecer
imbecilidade, deve ser uma virtude recíproca”.
No entanto de
forma muito cínica o que se desejava de ZÉ
DIRCEU era que fosse virtuoso num reino onde impera o vício, fosse sincero
no mundo da insinceridade, fosse probo com os ímprobos e fosse correto com os
tortuosos, oferecesse a face aos bofetões enquanto era apunhalado pelas costas.
Enfim, o que se
desejava é que fosse manso, no trato com a classe política, honrado e
cavalheiro entre os desumanos e corruptos e que por isso mesmo só entendem a
linguagem da desumanidade e da corrupção, no entanto tem mandatos, votam,
decidem os destinos do povo.
É impossível não
relembrar o pensamento de K. CHESTERTON,
o grande intelectual inglês na obra ORTODODOXIA
ao explicar os equívocos dos que atacavam o papado como sendo uma instituição
dirigida por homens sem escrúpulos, ao esclarecer que dentre o rebanho dos
Papas não havia somente ovelhas inocentes e cândidas, mas, também leões e
outras feras quase indomáveis e sendo assim afastar-se das convicções do
cristianismo e da Igreja, mesmo que fossem milímetros, poderia se por a própria
civilização e perigo porque os milímetros é tudo o que separa um corpo da queda
quando se está em equilíbrio.
Assim se escreve a história com os
“fatos” e a “versão dos fatos”. Afinal como dizia SHAKESPEARE: “Nem tudo o que
reluz é ouro” (monólogo do príncipe do Marrocos
no II Ato de O MERCADOR DE VENEZA).
Pouco se diz que os Deputados que
teriam recebido dinheiro não compunham o grosso das hostes petistas, exceto
alguns membros não do legislativo, mas da cúpula administrativa do Partido, mas
sim os Deputados que eram a base dos governos anteriores, em especial do
governo FHC, e isso é importante que se diga.
Enfim, esperava-se uma impossível
docilidade de ZÉ DIRCEU e se esperava que fizesse muito mais do que fez e para
muita gente, que tratasse com docilidade aos que sempre trataram o povo com
desdém, e de forma atenciosa aos que sempre devotaram desprezo as causas
populares, como aliados “fiéis” os que a qualquer um se aliava. Assim não o fez e foi destruído.
Afinal, ZÉ DIRCEU
é um bandido ou apenas cometeu o equívoco por haver “começado muitas coisas e
não haver terminado nenhuma e por ter tentado ser tantas coisas, tornou-se um
“homem acabado”, fazendo aqui alusão a
obra do gênio italiano como dizia GIOVANNI
PAPINI em sua obra L´UOMO FINITO (O
HOMEM ACABADO)”.
DIRCEU foi
guerrilheiro, lutou pela Democracia, mesmo que não tenha sido perfeito em tudo
isso, pois quem o é? Ao final colheu frutos âmagos de todo lado, teve a vida
pessoal e familiar destruída por ter colocado a militância política acima de
valores incomparáveis como a família.
Contudo não se
pode negar que sua militância e também com suas incongruências colaborou para
que muitos pudessem ter famílias e ter alguém para quem retornar quando do
término da ditadura, tornou-se poderoso, conheceu o poder político supremo, tem
relações internacionais, tem riquezas e conheceu as grandezas do mundo e por
fim sucumbiu.
É como se tivesse
reconstruído internamente o itinerário antropológico do roteiro do homem
decaído. Talvez por isso mesmo tenha condições de recomeçar mais humano, mais
humilde, mais gente, pois ainda há uma arena de hipócritas dizendo-se paladino
da moralidade e da justiça.
Contudo é notório
que não há moralidade fora da esfera moral do homem, não nos partidos
políticos, nas ideologias, nos sistemas, há o homem, a sua consciência, o resto
é o mundo e suas contingências.
7.
A ÚNICA RESPOSTA A SER DADA À NAÇÃO
BRASILEIRA E PARA A HISTÓRIA.
ZÉ DIRCEU é de
fato um homem rico materialmente, e sabia sobre a necessidade de enriquecer não
apenas por luxo, sabia e muito bem o que é um exílio sem recursos financeiros,
sabia o que era o ostracismo político na miséria, se perde muito mais do que
coisas materiais, perde-se sim a dignidade do viver, mas quanto a sua condição
existencial não se pode dizer que seja um homem derrotado.
Talvez, e isso é
suposição, hoje DIRCEU não precisasse
estar na prisão, talvez não se precisasse pensar nele, talvez não tivesse
cometido erro algum se tivesse tão somente se ocupado quando da Ditadura
militar, de apenas não fazer nada, como muitos que nada fizeram, sua vida seria
pacata, talvez tivesse numa posição bem mais cômoda, poderia quem sabe, e isso
é tão somente especulação, por certo, talvez tivesse até colaborado com o
regime de exceção procurando encontrar o lado bom de tudo aquilo, mas apostou e
pagou um preço.
Se a única
crítica realmente sólida, inquestionável e escandalosa é a de que a elite do
Partido dos Trabalhadores não mais precisará trabalhar porquanto teria
enriquecido de forma ilícita destruindo-se moralmente, decepcionando a
militância, manchando a história das lutas sociais na América Latina, contribuindo
para fechar as portas a um futuro de lutas e conquistas democráticas, sufocando
as sementes da esperança ainda por geminar no chão da liberdade, e é o caso de
se dar uma resposta cabal a isso.
Se o PT tiver a
capacidade de levantar caso a caso a história pessoal de seus dirigentes e
provar que são pessoas coerentes, não enriqueceram como dizem de forma ilícita,
não roubaram nem não mentiram. Então, a historia das lutas sociais será salva, mas,
se não o fizer fecham-se as portas de vez a toda utopia doravante.
Observe-se que
quando alguém passa a ter outro patamar de relacionamento é evidente que a
dimensão de negócios e oportunidades são diversas do que a situação de alguém à
margem dos acontecimentos políticos e econômicos. Uma coisa é tornar-se bem
sucedido como uma decorrência natural das relações na sociedade, outra é a
adesão ao crime e a corrupção pura e simples.
O caso “mensalão”
não é uma tragédia política porque dinheiro público teria sido em tese
apropriado por grupos particulares porque isso não é novidade, a Corte
portuguesa havia se apropriado da nação com a vinda da Corte em fuga a Napoleão
e antes já havia a exploração por 300 anos do Brasil como Colônia a fornecer
madeira, ouro, depois impostos.
Também não foi
novidade se for observado o sistema de privilégios onde certas categorias
trabalham mais do que as outras e recebem mais benefícios previdenciários, a
aposentadoria de Deputados e Senadores, de Governadores, ex-Governadores, e
demais pensionistas, afinal é dinheiro público apropriado por grupos privados,
ou quando os Magistrados são pegos com as mãos no dinheiro público, quando
muito são punidos com a aposentadoria compulsória para o que de um lado se é
uma grande humilhação.
Por outro
possibilita que os punidos tenham mais tempo para aproveitar os bons momentos
da vida, tendo sido o único caso de juiz condenado e preso mas em prisão
domiciliar o mitológico Juiz LALAU.
Mais modernamente
se for analisado no que teria consistido em valores verdadeiros e atuais os
supostos desvios do mensalão que até agora, com o povo condenado e encarcerado
ninguém demonstrou exatamente quanto foi e para onde foi o dinheiro, em
comparação a história política do Brasil nos dois governos do ex- Presidente
FERNANDO HENRIQUE, muita coisa curiosa poderia surgir.
Numa rápida
visita pelos sítios da internet a questão está como sempre dividida,
partidários de FHC alegam que nada de errado houve naquele governo e o governo
atual só tem defeitos. Por sua vez os partidários do governo LULA acusam o
governo anterior de verdadeiras atrocidades com o dinheiro público. Pois bem,
“vexata quaestio”!
Contudo, gostaria
de convidar o leitor destas modestas reflexões tão imprecisas quanto a própria
vida a analisar o rol de temas abaixo retirados de um site parcial, evidentemente,
inclusive sendo o título do artigo bem representativo desta parcialidade (http://www.psdbnuncamais.blogspot.com.br/),
mas, que servem como
roteiro para uma boa e bem fundamentada refutação.
O problema é que
se somente uma das acusações versadas no informe infra-indicado teria um efeito
nas finanças públicas diversas vezes mais grave do que o que se sugere tenha
sido o mensalão em termos de valores concretos e também de grande impacto
considerando-se as repercussões nacionais e internacionais dos alegados fatos. Vide:
1.
O caso SIVAM (sobre a questão do monitoramento tecnológico
na Amazônia).
2.
A questão dos financiamentos a Bancos privados, o PROER.
3.
Ainda, o problema das denuncia de caixa 2 em campanha
eleitora (1994 e 1998). A própria CNBB á época declarou que não ser justo
"que se roube o pouco dinheiro de aposentados e trabalhadores para injetar
no sistema financeiro, salvando quem já está salvo ou já acumulou riquezas
através da fraude e do roubo".
4.
O escândalo da Emenda da Reeleição. O instituto da
reeleição foi obtido por FHC a preços altos. Gravações reveladas lançaram
suspeitas sobre deputados que teriam ganho R$ 200 mil reais para votar a favor
do projeto. O escândalo do BNDES e as denuncias sobre o envolvimento da Previ para beneficiar o consórcio do banco
Opportunity.As denúncias sobre a privatização
da Telebrás, da Vale do Rio Doce.
5.
1999. As denúncias sobre o caso Marka/FonteCindam: Durante
a desvalorização do real, em janeiro de 1999, os bancos Marka e FonteCindam
foram graciosamente socorridos pelo Banco Central com R$ 1,6 bilhão, sob o
pretexto de que sua quebra criaria um "risco sistêmico" para a
economia.
6.
O governo FHC enfrentou resistências para aprovar o acordo
de cooperação internacional que permite aos Estados Unidos usarem a Base de
Lançamentos Espaciais de Alcântara (MA). Os termos do acordo são lesivos aos
interesses nacionais. Exemplos: áreas de depósitos de material americano serão
interditadas a autoridades brasileiras.
7.
O governo FHC teve de rever o contrato escandaloso assinado
entre a Bioamazônia e a Novartis, que possibilitaria a coleta e transferência
de 10 mil microorganismos diferentes e o envio de cepas para o exterior, por 4
milhões de dólares. Sem direito ao recebimento de royalties. Como um único
fungo pode render bilhões de dólares aos laboratórios farmacêuticos, o contrato
não fazia sentido. Apenas oficializava a biopirataria.
8.
Acordos com FMI: Em seus oito anos de mandato, Fernando
Henrique Cardoso enterrou a economia do país. Para honrar os compromissos
financeiros, precisou fazer três acordos com o FMI, hipotecando o futuro aos
banqueiros. Por trás de cada um desses acordos, compromissos que, na prática,
transferiram parte da administração pública federal para o FMI. Como resultado,
o desemprego, o arrocho salarial, a contenção dos investimentos públicos, o
sucateamento da educação e saúde, a crise social, a explosão da criminalidade.
Somente Presidente rompeu com o FMI na historia política brasileira.
9.
Autoritarismo: Passando por cima do Congresso Nacional,
Fernando Henrique Cardoso burlou o espírito da constituição e administrou o
país com base em medidas provisórias, editadas e reeditadas sucessivamente.
Enquanto os presidentes José Sarney e Fernando Collor, juntos, editaram e
reeditaram 298 MP’s, Cardoso exerceu o poder de forma autoritária, editando
mais de 6.000 medidas provisórias.
10.
O escândalo dos computadores: A idéia de equipar as escolas
públicas com 290 mil computadores se transformou numa grande negociata com a
completa ignorância da Lei de Licitações. Não satisfeito, o governo Cardoso fez
mega-contrato com a Microsoft para adoção do sistema Windows, uma manobra que
daria a Bill Gates o monopólio do sistema operacional das máquinas. A Justiça e
o Tribunal de Contas da União suspenderam o edital de compra e a negociata está
suspensa.
11.
O rombo causado pelo festival de fraudes transamazônicas na
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, a Sudam, no período de 1994 a
1999, ultrapassa R$ 2 bilhões. As denúncias de desvios de recursos na Sudam
levaram o ex-presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA) a renunciar ao
mandato. Ao invés de acabar com a corrupção que imperava na Sudam e colocar os
culpados na cadeia, o presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu extinguir o
órgão.
12.
Mudanças na CLT: Fernando Henrique Cardoso usou seu rolo
compressor na antiga Câmara dos Deputados para aprovar um projeto que
"flexibiliza" a CLT, ameaçando direitos consagrados como férias,
décimo terceiro salário e licença maternidade. Graças à pressão da sociedade
civil o projeto estancou no senado.
13.
Foram apurados desvios de R$ 1,4 bilhão em 653 projetos da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene. A fraude consistia
na emissão de notas fiscais frias para a comprovação de que os recursos
recebidos do Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) foram aplicados. Como
no caso da Sudam, FHC decidiu extinguir o órgão.
14.
Explosão da dívida pública: Quando Cardoso assumiu a
presidência da República, em janeiro de 1995, a dívida pública interna e
externa era de R$ 153,4 bilhões. Outro dia, em abril de 2002, essa dívida já
era de R$ 684,6 bilhões. Hoje, a dívida alcança 61% do PIB.
15.
Segundo informou
Leandro Fortes na Revista Carta Capital, Fernando Henrique Cardoso teria
apoiado o terceiro mandato de Alberto Fujimori, ex Presidente do Perú e que
responde por crimes contra a humanidade
16.
Um levantamento do Tribunal de Contas da União, feito em
2001, indicou a existência de 121 obras federais com indícios de irregularidades
graves. A maioria dessas obras pertence a órgãos como o extinto DNER, os
ministérios da Integração Nacional e dos Transportes e o Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas. Uma dessas obras, a hidrelétrica de Serra da Mesa,
interior de Goiás, deveria ter custado 1,3 bilhão de dólares. Consumiu o dobro.
17.
A omissão do Ministério da Saúde é apontada como principal
causa da epidemia de dengue no Rio de Janeiro. O ex-ministro José Serra demitiu
seis mil mata-mosquitos contratados para eliminar focos do mosquito Aedes
Aegypti. Em 2001, o Ministério da Saúde gastou R$ 81,3 milhões em propaganda e
apenas R$ 3 milhões em campanhas educativas de combate à dengue. Resultado: de
janeiro a maio de 2002, só o estado do Rio registrou 207.521 casos de dengue, levando
63 pessoas à morte.
18.
Além de vender o patrimônio público a preço de banana, o
governo FHC, por meio do BNDES, destinou cerca de R$ 10 bilhões para socorrer
empresas que assumiram o controle de ex-estatais privatizadas. Quem mais levou
dinheiro do banco público que deveria financiar o desenvolvimento econômico e
social do Brasil foram as teles e as empresas de distribuição, geração e
transmissão de energia. Em uma das diversas operações, o BNDES injetou R$ 686,8
milhões na Telemar, assumindo 25% do controle acionário da empresa.
19.
A disputa política entre o Senador Antônio Carlos Magalhães
(PFL-BA) e o Senador Jader Barbalho (PMDB-PA), em torno da presidência do
Senado expôs publicamente as divergências da base de sustentação do governo.
ACM renunciou ao mandato, sob a acusação de violar o painel eletrônico do
Senado na votação que cassou o mandato do senador Luiz Estevão (PMDB-DF). Levou
consigo seu cúmplice, o líder do governo, senador José Roberto Arruda
(PSDB-DF). Jader Barbalho se elegeu presidente do Senado, com apoio ostensivo
de José Serra e do PSDB, mas também acabou por renunciar ao mandato, para
evitar a cassação. Pesavam contra ele denúncias de desvio de verbas da Sudam.
20.
O governo FHC apresentou ao Brasil e ao mundo números
mentirosos sobre a reforma agrária. Na propaganda oficial, espalhou ter
assentado 600 mil famílias durante oito anos de reinado. Os números estavam
inflados. O governo considerou assentadas famílias que haviam apenas sido
inscritas no programa. Alguns assentamentos só existiam no papel. Em vez de
reparar a fraude, baixou decreto para oficializar o engodo.
21.
Para o emprego e a renda do trabalhador, a Era FHC pode ser
considerada perdida. O governo tucano fez o desemprego bater recordes no País.
Na região metropolitana de São Paulo, o índice de desemprego chegou a 20,4% em
abril, o que significa que 1,9 milhão de pessoas estão sem trabalhar. O governo
FHC promoveu a precarização das condições de trabalho. O rendimento médio dos
trabalhadores encolheu nos últimos três anos.
8.
CONCLUSÃO.
Ante todas as
questões expostas e há muito mais evidentemente a ser analisado e aprofundado, com certeza muito se pode dizer de tudo o
que foi comentado, mas a descendência de ZÉ
DIRCEU pode estar certa de que se seu patriarca errou foi porque acima de
tudo, recusou-se a simplesmente acomodar-se, mas sem dúvida, não se trata de um
homem qualquer, ou na linguagem dos anos 70 “não se trata de um prisioneiro
comum”.
Aqui não se anula a advertência do
Apóstolo PAULO, que também foi um
encarcerado: “Lembrai-vos dos presos, como se
estivésseis presos com eles, e dos maltratados, porque vós também tendes um
corpo“. (Carta aos
Hebreus, 13, 3). ZÉ DIRCEU, dentro ou fora de um Presídio não é melhor do que
ninguém, mas também não é pior, pois somos todos iguais e somos todos iguais
justamente porque somos todos diferentes.
A prisão como a vida pode até destruir
um homem, mas não derrotá-lo, seja ele quem for. A privação da dignidade e da
liberdade desperta as forças do homem decidido a não deixar que seu espírito
fique aprisionado como demonstrado pelos testemunhos e pelos estudos de VIKTOR FRANKL em seu estudo-testemunho nos campos de concetração
nazistas. Afinal, como
escrevera ERNEST HEMINGWAY em sua
obra clássica O VELHO E O MAR: “O homem pode ser destruído, mas nunca
derrotado porque o homem não foi feito para a derrota”.
Acrescento aqui nota pessoal: O saneamento dos Bancos Estaduais através da intervenção do Banco
Central pelo regime do RAET- Regime de Administração Temporária, mas, que ao
termino da intervenção criou dívidas monstruosas a serem assumidas pelas
populações dos Estados, como no caso do Estado de Rondônia onde o Banco
Estadual BERON tinha uma dívida pouco mais de 56 milhões e ao termino da
administração pelo governo federal tinha uma dívida de mais de meio bilhão de
reais e cuja conta até hoje a população paga mensalmente. E isso ocorreu em
absolutamente todos os Estados da Federação. O único Estado da Federação que
questionou isso na Justiça foi o Estado de Minas Gerais através de ADIN onde
fundamentou a demanda com estudos colossais dos maiores autores de Direito,
Ciência Política e Economia do Brasil e de vários outros países.
Os títulos e autores precisam passar por revisão
porque as citações foram feitas “de cabeça” pelo autor. Portanto precisam de
revisão bibliográfica, visando mais a atividade docente. Assim sendo, o
trabalho evidentemente poderá ser revisto e melhor detalhado oportunamente.