quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A FESTA CRISTÃ E OS CRISTÃOS UM GRANDE DESAFIO.

Paulo Cesar de Lara

MOHANDAS KARAMCHAND GHANDI, depois conhecido como MAHATMA GHANDI, (o grande espírito ou grande alma na linguagem em sânscrito) grande pacifista, dissera que gostava de Cristo, mas, não dos cristãos porque os cristãos não se pareciam nada com Cristo.

O Natal é o grande desafio de coerência e fé de cada um dos cristãos, coerência para consigo, para com a comunidade e para com o mundo que exige testemunhos de fidelidade como pré-condição ao diálogo.

A letra da canção Happy Christmas de LENNON e YOKO  nos indaga todos os anos: “Então é Natal/ E o que você fez? “Esta indagação nos acompanha o ano todo, pois afinal, o que de fato fizemos ao longo de 2013? Sim, pois, todos fizeram algo, de bom ou não tão bom assim.

Mas o que nós fizemos o foi de coração sincero ou por outras razões, talvez por obrigação de natureza legal, moral, religiosa ou mesmo como uma retribuição afetiva, enganamos aos outros e as nós mesmos? Até que ponto, fomos nós mesmos, fazendo o que verdadeiramente amamos fazer? Ou apenas nos acomodamos a nós e nossas conseqüências?

Será que todas as nossas palavras foram sinceras? Foram verdadeiros todos os nossos elogios? Quantas vezes não massacramos ao próximo com comentários envenenados por vários motivos, ira, despeito, rancor, inveja, tola concorrência, vaidade ferida, e tudo de forma tão sutil muitas vezes, ou até mesmo ante o simples fato de não querermos contrariar aos outros e nos passar por solidários, polidos, companheiros no cinismo?

Nem cogito do próximo “distante”, aquele ser “teorizado” que não nos é próximo, senão pela menção de que existem, mas ao próximo, de fato próximo. Os companheiros de trabalho, de estudos, os próprios parentes, vizinhos e familiares. Será que podemos nos olhar no espelho ao final deste ano de 2013 orgulhosos de tudo o que dissemos e pensamos e ardentemente desejamos e deixar que se reflita ali a nossa autêntica consciência?

Se não tivemos um ano exatamente dos mais corretos do ponto de vista de nossas relações teremos mais uma página a ser virada no ano que se aproxima. Mais uma página em branco, sem nada escrito, com histórias inteiras a serem escritas, com momentos de romance e sonhos, mas também de trabalho e realizações, com momentos para construirmos algo que talvez somente tenha sentido para nos mesmos, mas que ao final de tudo de fato tem um sentido.

Em nosso novo enredo, há novos personagens que foram incluídos pela vida, pelas circunstâncias, por nossas opções ou por outras razões que até desconhecemos e que a providencia divina quis colocar em nosso caminho há personagens que sempre estavam caminhando conosco e de várias formas, nos deixaram, partiram ante do encerrar das cortinas dos anos que se findaram, deixando-nos a saudade e a lembrança de tantos momentos, talvez a lembrança de uma vida.

Hoje é dia de NATAL, Natal de 2013, tempo de luzes que se acendem pelas alamedas e casas e também deveriam se acender em nossos corações e consciências. Hoje meu Pai acordou preocupado com um ninho de passarinhos, se haveria comida para os filhotinhos. Achei bonito sua reverência para com a vida, com a fragilidade da vida de um ser indefeso.

Conversei com meus filhos, minha esposa, os familiares, refleti um pouco sobre o meu NATAL e o quanto preciso mudar externamente e internamente e o quanto fui afetado com tantos acontecimentos irrefletidos ao longo deste ano. 

Uma das coisas que mais mexeu comigo no ano que passou foi a maneira infeliz como algumas pessoas se referem aos outros com o maior desprezo por conta da condição social, cultural, pela cor da pele, e até mesmo pela aparência física, e ouvi tantas coisas de tantas pessoas em tantos lugares e fico pensando como será o futuro se estamos tão dissociados do amor e da caridade.

Como construiremos a civilização do amor se tantos e tantas não conseguem enxergar nada além de si mesmos. Fiquei atemorizado com isso. A luta pelos direitos humanos passa pela fronteira do preconceito mais vivo, brutal e avassalador do que possa supor nossas sondagens acadêmicas ou nossos entreveros coloquiais do dia a dia, é um veneno letal que se impregna cada vez mais no homem dito pós-moderno.

No próximo ano vou refletir melhor sobre as origens destes preconceitos, é algo necessário. É tão triste ver a grandeza humana ser, pisada por semelhantes em tudo, que se acham, não sei por qual razão, superiores em alguma coisa aos seus iguais porque não podemos fugir de nossa essencial fraternidade sob pena de deformarmos o espírito da humanidade e nos degradarmos em uma subespécie moral.

Antes de tudo é falta de amor, de caridade, é falta de humanidade, é o princípio do terror, assim eu penso porque, quando nos calamos a mais banal das violações de direitos, por aparente que seja, tal banalidade, abrimos as portas para todas as violências irrompidas do inconsciente humano.

Neste ano ouvi pessoas se referirem a outros com tanto desprezo que me causou uma profunda tristeza, se referiam aos seus irmãos de humanidade com expressões “os pretos cotistas incompetentes”, os “negros burros”, os “nordestinos idiotas”, os “nortistas são idiotas”, e referindo-se ao portadores de sofrimento mental, ouvi expressões como “retardados idiotas”, “débeis mentais imbecis”, aos obesos como “gordos ridículos”.

Soube de um político que abertamente falou no dia da comemoração da Constituição de 1988 que “lugar de pobre” é na “barriga de peixe”. Além disso, vi jovens desprezando os velhos, humilhando não a estranhos, mas a pessoas da própria família, vizinhos, companheiros do dia a dia.

Soube de alunos que desprezaram seus Mestres, seus mentores intelectuais, Mestres que humilharam seus alunos, seus filhos espirituais, pais que aniquilaram seus pais afetivamente, filhos que não foram capazes de um gesto de renúncia e carinho aos seus pais durante o ano todo, não foram capazes de reconhecer o sacrifício dos seus Pais achando que os Pais apenas “cumpriram para com a sua obrigação”.

Soube de Patrões que assediavam seus empregados e empregados que conspiravam pela quebra dos seus empregadores, numa inversão de valores, ou melhor, inexistência e valores, um show de cinismo e decadência que só leva a ruína espiritual e a degradação moral individual e coletiva, de Lideres espirituais indignos da confiança que receberam de seus fiéis, políticos conspiradores contra o próprio povo, mentiras e demagogias, exploração da miséria para manter projetos de poder.

No plano coletivo não foi tão diferente assim, irmãos de comunidades que se desprezavam e caluniavam mutuamente, esposos e esposas que se traíram a si e aos seus filhos, jovens que apesar de toda informação buscaram as drogas que todos sabem ser o atalho para curto para o inferno pessoal e de toda a família e coletividade.

Portanto foram muitos descaminhos nesta nossa realidade histórica. Mas o NATAL vem para isso mesmo, é DEUS que se encarna em nossa história de trevas e angustias, de fraquezas e misérias para resgatar a nossa humanidade de nosso próprio egoísmo.

Por isso a mensagem do menino que se encarna na história humana tem este sentido histórico, pois, para todos nasce uma nova possibilidade de construir nossa história como pessoas e como irmãos. Ninguém diz que isso é fácil, mas, é mais fácil ser feliz do que infeliz, talvez demore mais, mais é mais fácil.

Não desperdicemos, pois, neste Natal nenhum momento com palavras que não expressem alegria e gratidão, piedade e perdão, compreensão e silêncio pelas nossas enfermidades da alma e do coração e pelas enfermidades de tantos nossos irmãos de caminhada nesta grande aventura chamada vida na qual ainda estamos todos, pois os dias correm céleres, como, o vento no descampado, talvez não nos reste muito tempo individual para fazer o bem e assim sermos felizes, antes de nosso encontro definitivo com o infinito.

Que a lembrança dos que amamos e já deixaram esta realidade em que ainda vivemos em nossa forma humana meio trevas/meio luz, não nos paralise na tristeza, mas, que continue sempre sendo nossa força para continuar lembrando os momentos felizes e o quanto aqueles que já partiram para as trilhas celestes nos queriam e nos querem bem.
Não se deve esquecer que aqueles que nos desejavam em vida nossa felicidade e agora, de lá do infinito onde nos contemplam com seu olhar de eternidade ainda continuam a acreditar em nós e a interceder pela nossa felicidade.

Tudo estará novamente à nossa frente dentro do que é possível e viável ser repetido, um universo de possibilidades de escolhas, uma nova a genuína chance para sermos felizes e acima de tudo fazermos aos outros felizes, plenos, realizados se descortina. Tenhamos, pois, como SANTO AGOSTINHO medo do “Deus que passa”, porque com o eterno passam talvez nossas oportunidades de sermos felizes.

Os primeiros passos talvez sejam a aceitação do que não pode ser mudado e a ousadia de mudar o que pode ser mudado, bem como a serenidade de discernir o imutável. Assim ensinava SÃO FRANCISCO, o pobre de Assis. Talvez assim, teremos a oportunidade de respondermos com mais entusiasmo e satisfação a pergunta do natal de 2014: Então é Natal, e o que você fez”?  

Feliz Natal 2013!

Você não precisas concordar comigo, apenas caminhemos juntos.

Acesse a canção de Natal de Lennon e reflita.


Acesse também esta bela versão de CELINE DION


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